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sábado, 22 de setembro de 2012

O Diabo no Período Medieval

A figura Diabo não possuí uma tradição iconográfica na arte cristã, assim como os Santos, a Virgem Maria e Cristo. Eram muitas as dificuldades enfrentadas pelos artistas que desejavam por algum motivo representar a figura do Diabo. Sendo assim, buscou-se na tradição da antiguidade clássica os componentes para elaborar as características físicas diabólicas. No período medieval é que essa escassez de imagens cristãs – principalmente antes do século IX – representando o Diabo foi superada. Foi do Deus grego Pã, um Deus – filho de Hermes dotado de chifres, rabo, cascos, orelhas e parte inferior do corpo peluda que se extraiu os


principais elementos iconográficos de Satã. Uma iconografia mais específica sobre o Diabo foi desenvolvida no século XI, sendo que a sua forma original feita por Deus, “à sua imagem e semelhança” foi deturpada, monstruosa, animalesca; conservando porém, a silhueta antropomórfica. Tudo o que o cristianismo repeliu de forma intensa, classificando como contrário a seus dogmas, pagão, impuro, etc, resguardou-se no “reino do Mal”. A associação das divindades pagãs com o Diabo tornou-se uma coisa natural para os primeiros cristãos, porque estes, andavam e eram perseguidos por um mundo pagão e através da mudança das crenças dos pagãos é que a religião cristã se manteve viva. A associação dos deuses pagãos com demônios reflete o modo de como a [Igreja] interpretou a filosofia e a ciência clássicas, tornando-as relativamente improdutivas ao longo dos séculos, pois a teologia era preocupação primeira. Somente no Séc. XIII, com a Escolástica é que a Filosofia ressurgia, assim como as artes clássicas (no assim chamado primeiro renascimento, época das catedrais e cruzadas, e de grande desenvolvimento artístico, arquitetônico e filosófico). A que a construção do reino das trevas feita pelo cristianismo, está com tudo o que deve ser negado no seu universo de valores. A perseguição profunda sofrida pelos cristãos que fugiam dos romanos agravou o processo de demonização do “outro”, e quando uma religião concorre com o cristianismo, tende a ser vista como um fenômeno que batalha contra ele. Não são poucos os casos em que o cristianismo acaba por demonizar seus concorrentes no campo religioso e a formação da iconografia do Diabo é um exemplo da forma como o cristianismo interage com as religiões concorrentes. Sobre as ruínas das antigas religiões precedentes ao cristianismo é que foi construída a imagem do Diabo e, depois que a imagem e o papel dele já estavam bem delineados, o cristianismo continuou a identificá-lo com as expressões religiosas do “outro”. Da mesma forma que o cristianismo demonizou as religiões gregas, é que a poderosa Igreja medieval demonizou e caçou seus inimigos dissidentes, levando também, o cristianismo a demonizar as religiões dos ameríndios e dos negros africanos. O afloramento da modernidade no Ocidente Europeu foi seguido de um grande medo do Diabo. Apesar de ser a modernidade a época em que tanto o Diabo – e por conseqüência – quanto a Inquisição atingiram o auge do poder, foi entre os séculos XI e XII que acontecera uma primeira grande “explosão diabólica”. O código feudal associou o Satã a um vassalo infiel, adquirindo fama de sedutor e perseguidor. Apenas após o século XIV é que o Diabo atingiu o auge da fama na Europa, sendo a “Divina Comédia”, escrita por Dante Alighieri, um marco para a época e um símbolo de seu triunfo. O declínio de sua fama iniciou-se com o fim da modernidade, no século XVII. Na Idade Média, o papel do Diabo é mais de um servo familiar do que um invasor que se apodera das pessoas. Particularmente para as camadas populares, o Diabo medieval nem sempre é uma figura aterrorizante e, por vezes, é fácil enganá-lo. Essa visão tipicamente medieval do Diabo está bem estampada na assimilação que o catolicismo brasileiro fez dele e o filme “O Auto da Compadecida”, pode ilustrar bem essa facilidade em se enganar o Diabo. Outra característica relevante acerca do Diabo medieval refere-se à forma de como ele esteve sempre associado à dissidência religiosa, afinal, toda religiosidade européia precedente ao cristianismo é rejeitada e vista como heresia, ou seja, diabólica. Essa perspectiva que associa os dissidentes religiosos com servos do Diabo, ou seja, hereges, bruxos, começou a obter sucesso durante a Idade Média. No século IX o cânone Episcopi, distante de perseguir feiticeiras ou bruxas, afirmava que as crenças nos vôos noturnos são infundadas e não passam de ilusão, sendo que acreditar nisso significa distanciar-se da fé verdadeira visto que pensam que além do Deus único, existe uma potência divina. Curiosamente, no século XV, os clérigos admitem a realidade dos vôos noturnos. O “Manual dos Inquisidores”, escrito em 1376 por Nicolau Eymerich, serviu de base para a ação da inquisição que atingira seu ápice na Idade Moderna. Os procedimentos, maneiras de conduzir os interrogatórios e, particularmente, as torturas, foram objeto de uma crescente riqueza de detalhes. De acordo com o manual, não era difícil de ser considerado um herege. Outro documento de suma importância é o Malleus Maleficarum (O martelo das feiticeiras), publicado em 1486, que reuniu o saber demonológico acumulado ao longo dos séculos, descrevendo as práticas maléficas das feiticeiras da época e dedicando-se e enumerar as medidas radicais de combate ao mal. A inovação está no seu caráter massificador e sistematizador, fazendo dele uma verdadeira suma escolástica sobre feitiçaria. A partir da demonização do outro é que a imagem do Diabo foi construída pelo cristianismo medieval, por isso que nesse período as divindades pagãs foram completamente reduzidas à condição de demoníacas. Devemos lembrar o fato de que o Diabo, ao longo dos séculos, se constituiu em um invasor de corpos que deveria ser expulso por pessoas especiais ou santas, vai gradualmente se amansando e se tornando uma figura familiar com que se pode até negociar com sucesso na Idade Média. Porém, nesse período, ele não perdeu seu aspecto sombrio mas sim, chegou bem mais perto da realidade humana.

fonte Wnkipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Diabo

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